domingo, 19 de dezembro de 2010

O Júri e a Lei da Reciprocidade



A vida é um BUMERANGUE, tudo que você faz de bom ou de mau volta para você, então não seja egoísta, faça coisas boas e colha felicidade.






“Não é estranho que a palavra bumerangue tenha sido dicionarizada há tantos anos e que as pessoas não saibam, geralmente, que essa palavra significa uma arma que volta atrás e fere a mão que a arremessou?” (Napoleon Hill)




Esta lei não se limita a fazer voltar contra nós as ações injustas que cometemos uns para com os outros; pode mais longe, muito mais longe, e nos traz os resultados de cada pensamento que formulamos; portanto, tenha muito cuidado com as coisas que você deseja para os outros, pois o universo pode devolver para você. Há um provérbio grego que afirma: “Qualquer espécie de palavra que você disser, a mesma você ouvirá.”


Estava iniciando a carreira de Promotor de Justiça, no interior do país, e acreditava no soberano Tribunal do Júri. Já tinha feito alguns Júris com relativo sucesso.


Certa vez, eu ia fazer um Júri, e momentos antes, recebi no meu gabinete uma senhora muito humilde, com vestidos rasgados e empoeirados ela me disse algo que eu fiquei paralisado:


“Dr. Promotor, o senhor vai fazer daqui a pouco o julgamento do assassino do meu filho, eu não tenho nada para lhe dar, mas vou rezar para que o senhor faça justiça, pois eu só confio no senhor aqui na Terra e Deus no céu”.


Eu, ingenuamente, respondi: “Minha senhora, não se preocupe, eu estou representando a justiça, a senhora não precisa pagar nada, e pode ter certeza absoluta que o assassino do seu filho será punido”.


O assassino era de uma família tradicional, com prefeito e deputado federal como tios.


Parece que a dignidade daquela senhora me iluminou, começamos o júri 9h da manhã de uma sexta-feira, terminado 6h20min do sábado.


Acho que foi o melhor júri que eu fiz em minha carreira. No final, olhava o auditório lotado com a elite da cidade torcendo pelo assassino e apenas uma senhora, no último banco da sala me inspirando. Resultado: mesmo sem a mínima justificativa, o assassino foi absolvido por 7 a 0 (sete a zero).


Na leitura do veredicto do Juiz a platéia vibrou, mas eu observei lá no fundo da platéia uma lágrima rolar, eu também fui até o gabinete e chorei, mandei chamar a senhora, mãe da vítima, e pedi desculpas, pois achava que não tinha desenvolvido minha função de forma eficiente.


Ela disse: “Dr. O senhor fez demais, aqui, rico nunca foi condenado”.


Eu apenas disse: “Agora eu sei, mas vou recorrer da sentença e o assassino será julgado novamente”.


Ao sair do fórum encontrei o sorridente corpo de jurados. Ao desabafar, disse: “Vocês acabam de realizar uma grande injustiça”.


Uma jurada, muito religiosa que só andava de branco, respondeu: “O senhor mesmo disse que nossa vontade é soberana, portanto, nossa decisão deve ser respeitada”.


Respirei fundo e sem argumentos fui embora, era a primeira vez que eu atestava uma injustiça ser concretizada.


Passei longas noites sem dormir e afinal me convenci que tinha feito minha parte, tinha recorrido da sentença e deveria esperar o resultado do Tribunal de Justiça.


A natureza é perfeita e a lei do retorno é absoluta, três meses após o lamentável fato narrado, alguém batia fervorosamente no meu gabinete e eu reconheci de plano, era a senhora muito religiosa que só usava branco, aos prantos ela relatou:


“Dr. Promotor, me ajude, acabaram de matar meu filho”.


Por ironia do destino a mesma jurada que absolveu um cruel assassino e pedia para ser respeitada em sua decisão, agora pedia justiça.


Eu poderia ter dito: “tá lembrada de uma senhora muito humilde, com vestidos rasgados e empoeirados que passou toda a noite esperando ser realizada justiça e vocês absolveram o assassino de seu filho?”


Mas preferi respeitar a sua dor e apenas disse: “ vou fazer o possível para realizar a justiça, mas a senhora já sabe, no final quem decide é a sociedade”.


No primeiro caso, tempos depois, o Tribunal de Justiça, aceitou meus argumentos e devolveu para novo julgamento e parece que a sociedade aprendeu, o assassino do filho da senhora de vestidos rasgados e empoeirados foi condenado a 19 anos de reclusão.


Eu tenho alguns títulos: mestre em Direito, duas especializações em algumas áreas de Direito, concluí três faculdades, mas você sabe qual é o meu maior título?


É uma cartinha de uma senhora que tinha os vestidos rasgados e empoeirados, que diz:


“Dr. Promotor, Deus te pague, enfim, foi feita Justiça. Meu filho agora dorme em paz, e eu também já posso morrer em paz, eu acredito na justiça, Deus te proteja”.


O interessante é que os livros sagrados das mais diversas religiões pregam a Lei da reciprocidade:




Cristianismo: Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles, pois esta é a lei e assim o dizem os profetas (Bíblia, Mateus 7:l2).


Budismo: Não atormentes o próximo com o que te aflige (Udanavarga, 5, 18).


Confucionismo: Não faças aos outros aquilo que não desejas que te façam (Anacleto 15,23).


Hinduísmo: O dever é, em suma, isto: não faças aos outros aquilo que, se a ti for feito, te causará dor (Mahabharata, 5, 1517).
Islamismo: Ninguém será um crente enquanto não desejar para seu próximo aquilo que desejaria para si mesmo (Tradições).


Taoísmo: Considera o lucro do teu vizinho como se fora o teu próprio, e o prejuízo do teu vizinho como se fora o teu próprio prejuízo (Tai Shang Kan Ying P’ien).


Judaísmo: Se algo te fere, não o uses contra o próximo. Isto é todo o Torah; o mais simples comentário (Tamulde).


Zoroastrismo: Só terás boa índole quando não fizeres aos outros o que não for bom para ti próprio (Dadistan-i-dinik 94,5).



Em resumo, plante o que desejar colher.


Por Francisco Dirceu de Barros, Promotor de Justiça em Pernambuco.

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